Conspiração e paranoia

Continuação do post Todos estamos conscientes.

William S. Burroughs, "Mas eu estava enganado. Existe um segredo".

 "Só por quê você é paranóico,
não significa que eles não estejam atrás de você".
Mijos territoriais (1991)
Nirvana


2.
Agora, a questão mais importante não é “quem” são os céticos, pois já sabemos que são os conservadores. A questão é “por quê” eles pensam da forma que pensam, por quê eles não acreditam nos fatos. As pessoas precisam de razões para acreditarem em algo. Elas podem provar o ponto absurdo delas através de evidências complexas e nada do que for dito pode fazê-las acreditar no contrário.

Existem inúmeros exemplos de pessoas que estão firmadas em suas crenças apesar de existir evidência contrária, como em teorias da conspiração, que podem ser justificáveis ou eminentemente falsas. Rousseau, por exemplo, foi vítima de diversas conspirações que deixaram-no paranóico. O filósofo Richard Popkin, que escreveu o clássico A História do Ceticismo (1960), acreditava que o assassinato de Kennedy era uma conspiração. Dizer que eles são loucos implicaria que um monte de gente é louca. Por exemplo, quase metade da população mundial acredita que a queda do World Trade Center foi uma conspiração - o que é uma grande besteira. Acontece que pessoas normais também podem ter pensamentos loucos. Nas palavras de William S. Burroughs, “um paranóico é alguém que sabe um pouco do que está acontecendo.”

Uma explicação é que as pessoas acreditam em teorias da conspiração porque elas possuem informações isoladas, que resultam em erros epistemológicos. Um remédio para isso seria uma infiltração cognitiva, algo que introduziria uma mudança na crença destas pessoas. Mas esta é apenas parte da explicação. O mais intrigante são pessoas bem esclarecidas, que moram em metrópoles ricas em informação, mas que acreditam em conspirações.

Carl Sagan ilustra este problema num passeio na Biblioteca Pública de Nova York:
“Se eu ler um livro por semana por toda minha vida adulta, eu lerei alguns milhares de livros, nada mais. Nesta biblioteca, isto seria daqui [anda 10 prateleiras] até mais ou menos aqui. Isso é só 0,1% de toda a biblioteca. O truque é saber quais livros ler.”

O problema aqui é “o quê” as pessoas fazem com a informação que elas possuem, como elas confiam nas suas fontes de informação e o que elas selecionam. A forma que uma pessoa lida com as informações, acreditando ou dispensando evidências conforme sua ideologia, é um reflexo do tipo de pensandor que esta pessoa é. Teoristas conspiratórios tendem a imaginar respostas proporcionais a escala e complexidade do que aconteceu, em casos como o assassinato de JFK, a queda do WTC, etc. Eles tentam responder de maneira satisfatória aos seus intelectos e emoções. Estas emoções represam. “Existe um segredo obscuro escondido entre nós” e quando desvendam este segredo, a revelação afaga a mente e o peito.

Segundo Quassim Cassam, Professor de Filosofia na Universidade de Warwick, existem traços de personalidade, como credulidade, preconceito e coragem, que representam características (virtudes ou vícios) intelectuais. No entanto, o maior predicato de que uma pessoa vai acreditar em uma teoria da conspiração é que ela já acredita em uma, o que independe de sua personalidade. Popkin, por exemplo, escrevia sobre as nuâncias do ceticismo e ele próprio era um cético que acreditava em teorias conspiratórias - mas ele não era um mal filósofo. Uma coisa não invalida a outra: você pode ser um ótimo motorista e um péssimo cozinheiro.

Isto também não significa que o raciocínio por trás da conspiração esteja todo falho. Cientistas e filósofos devem manter grande rigor para investigar o que jaz por trás das aparências. Em alguns casos, no entanto, eles não acreditam na evidência consensual, pois creem que ela esteja corrupta. Eles argumentam a partir de falsas premisas e suportam teorias que encaixam com suas preposições e crenças pessoais e, no fim, acabam errados.

Talvez seja natural as pessoas terem mentalidades conspiratórias, mas alguns pontos de vista podem causar danos sérios ao invidivíduo e à sociedade. Nós devemos tentar mudar as opiniões, mesmo que, por definição, seja difícil mudá-las. Devemos pressionar políticos para que eles tomem medidas para amenizar os danos destas opiniões e encalçar bases educacionais firmes nas crianças. Nós devemos pensar “de dentro” da teoria conspiratória e transformar paranoicos em pensadores virtuosos. É difícil, mas todos nós temos a capacidade de mudar de opinião.

Comentários

Postagens mais visitadas